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O ASNO FALANTE
João carlos de oliveira

Nos tempos atuais, a violência praticada pelo homem civilizado, na sua essência, não mudou muito daquela praticada nos tempos passados. Em verdade, o que mudou mesmo, foram as formas da sua prática. Ao me lembrar destes assuntos desagradáveis, que via de regra, deveríamos esquecê-los, remexendo no baú das minhas lembranças, acabei-me, por relembrar de uma historia interessante, contada várias vezes, pelo grande amigo e contador de causos, conhecido como, João Paú. João, gostava de contar, que numa certa região distante, lá pelos rincões do Nordeste, que ele havia ouvido dizer de um causo, que sem aumentar nada, ele acreditava, ter verdadeiramente acontecido. Segundo suas fontes, os acontecimentos, envolviam um certo sujeito da roça, pequeno sitiante, trabalhador dos bons, que mantinha em sua propriedade, um certo número de animais de criação, e alguns animais de serviço, dentre eles, um pequeno jumento, ou jegue, que era utilizado como força de trabalho e para locomoção da família. O pequeno fazendeiro, apelidado por Jucão, apesar de bom trabalhador, era conhecido por ser muito rude, e não cuidava do seu vocabulário, freqüentemente, era visto em xingamentos, e por certo, devido a esta condição de destempero verbal, acabou por contrair algumas inimizades. Certo dia, já de tardezinha, precisou fazer uma pequena viagem e selou o seu Jegue. Naquela época, haviam muitas matas. Naturalmente, que as estradas, eram nada mais, do que trilhas, que ligavam um lugarejo à outro. Assim, decidido a fazer a pequena viajem, saiu de casa por volta das 16:00 horas, com previsão de retorno, até as 20:00 horas. Uma vez comunicado para a sua esposa, montou seu animal e partiu. A distância não era longa, o certo é, que uma vez percorridos cerca de 4 kilometros desde a sua casa, a estrada cavaleira, que já não era nada boa, se resumia praticamente numa trilha, bastante batida é verdade, mas apenas uma trilha no meio de uma mata. O certo é, que após percorridos algumas centenas de metros no meio do trecho de mata, o animal de montaria, começou a assoprar fortemente as suas narinas, e a movimentar com certa intensidade as suas grandes orelhas. Por vezes, tentava adentrar pelo meio da mata suja. Jucão, diante daquela situação de insistência do animal, tentava por todos os meios contê-lo, segurando as rédeas firmemente com as mãos, e ao mesmo tempo, mais uma vez, lançava mãos do seu destempero verbal, com forte veemência, fazendo xingamentos de toda ordem, para quem quisesse em alto e bom som, ouvi-lo. Bastante nervoso e descontrolado, agredia fisicamente o pobre do animal sem piedade, com seu chicote traiçoeiro. O certo é, que mesmo usando do seu pulso forte, e de todo o seu destempero verbal, e de toda a sua agressividade, não conseguiu conter o animal na sua trajetória de embrenhar pela mata adentro, afastando-se, cada vez mais das trilhas. Jucão, atônito, não acreditava no que via, parecia-lhe, que não conhecia a verdadeira força do seu Jegue. É sabido, popularmente, que o Jegue, quando decide a sua ida para uma determinada direção, ninguém consegue dominá-lo, tal, é a força do seu pescoço. Dito e feito, jucão, por mais que tentasse, não conseguiu conter o animal, o certo é, que com o corpo todo ralado pelos galhos e espinhos das árvores, somente foi parar ao sopé de uma montanha. Embrenhados no meio da mata - homem e animal -, num lugar ermo, e de pouca claridade, o Jegue, bastante machucado pela agressão sofrida, agora, voltando os seus olhos para o seu proprietário, com ares de interrogação, e de forma inesperada, começou então à falar-lhe: Jucão! porque estás me agredindo desta forma ? somente quis proteger a sua vida! Saiba vossa mercê, que lá adiante, nestas mesmas trilhas que tu seguia, estavas prestes a encontrar a sua morte. Protegido pelo anonimato da penumbra destas matas, um seu inimigo, sabedor da sua viagem e trajetória, o esperava, numa emboscada traiçoeira, para retirar-lhe, a vida. Estupefato, diante do que presenciava, aquele homem rude, de atitudes grotescas, custava muito acreditar, naquela situação que ora vivenciava, e após alguns minutos de reflexão, trêmulo, ao dar-se, por si, bateu com os seus joelhos no chão ali mesmo, e voltando os seus olhos para os céus, agradeceu a Deus, pela dádiva ali e agora recebida, sabia, que não era por merecimento, que por certo, no resto dos seus dias, ainda, deveria ter importante missão para ser cumprida.

MOOC,19 de Agosto de 2012.
João Carlos de Oliveira
E-mail: zoo.animais@hotmail.com



Biografia:
Nem mesmo cairá uma unica folha de uma árvore, se caso não exista uma razão para tal!
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