é tão difícil
ser gente,
é tão difícil
compreender
essa gente.
já é difícil
perceber
quem pensa
que é gente,
e gente que
nem se parece gente.
eu?
fico de
espelho não mão
perguntando:
mas que gente sou?
mas o rútilo espelho
se cala impiedoso.
não deu certo.
não sei quem sou,
não sei pra onde vou,
mas sei que
vou prá perto
do desejo.
é a única forma
de ser gente,
sem orla,
meio torto.
mas eu só queria,
de pacinha,
que alguma gente
me fizesse gente
e abrisse as portas
pra sentir o sol
pra viver a lua,
tudo muito querido
e toda a gente
disesse:
vamos amar
este corpo
carinhoso,
quase coral,
desbotado de cor,
vamos fazer dele
um pouco de gente,
e um brilhoso
portal de luzes,
com muitas mãos-dadas
e muito amor
sem muita dor.
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