O progresso nos invade, eis a nova tônica,
E com qual velocidade? Ora, supersônica!
Os vetores da mudança são a eficiência,
‘Queda livre’ das fronteiras e a concorrência.
Novo mundo encolhido é lei do progresso.
Os seus detratores entram em recesso,
São as ondas de conforto invadindo o lar,
Garotas de programa usam celular.
Os luditas não aceitam, mesmo sem teares,
Farão com que as novidades voem pelos ares.
Nasce outro desemprego, é a parte trágica,
Falta faz a algibeira com saída mágica.
Para muitos, um naufrágio, fruto da tormenta,
Levantou-se a poeira que não se assenta.
Gutenberg não previa livro eletrônico,
Nem Maimônides sonhava com o ser biônico.
As cassandras vaticinam. É o fim da linha,
Os prudentes se recolhem “Ficarei na minha.”
Trânsito congestionado no ciberespaço,
Vão tentar regulamentá-lo com um apitaço?
E surgiu um novo termo: Nova Economia,
Que de nova tem o nome, sem a apatia
Na qual ontem mergulhamos, presos à rotina
De um surrado, velho ciclo, que aqui termina.
Marx revira-se na tumba. É citado em vão.
Adam Smith ficou perplexo por causa da mão.
Revoltado, Nostradamus quebra a bola de cristal.
Foi cunhado novo insulto :’É neoliberal!’
Esse palavrão funesto tem significado:
É a senha de acesso ao Deus-mercado.
Reviraram o conceito, virou panacéia
Só se fala no assunto na global aldeia.
Mas discurso não resolve as novas charadas.
Muito menos manifestos e caras pintadas.
Perorar não tem sentido em balcão de bar.
Joguem a birita fora, vamos acordar.
O culpado, como sempre, é nosso vizinho.
Entre nós , que diferença! Da água pro vinho!
Resignado anota Sartre lá no seu caderno:
Só dos outros é composto esse nosso inferno.
Chega de caçar as bruxas, o momento é mágico.
Se seguir as velhas regras, o fim será trágico.
Dinossauros resistem. Falta de aviso?
Pagaremos com miséria a falta de juízo.
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Biografia: Alexandru Solomon nasceu em Bucareste (1943), mas vive no Brasil desde os 17 anos. Ao lado de uma sólida carreira empresarial, de uns tempos para cá passou a se dedicar a uma nova paixão: a literatura. Através da sua escrita nunca deixa o leitor indiferente. Um contador de histórias na velha tradição, empregando recursos que vão mostrar ao mundo em que vivemos, algo que pudesse estar perdido. Preparem-se, portanto, para uma surpresa que virá atrás da outra. Pois, Alexandru Solomon, além de humor, vai mais fundo.
Autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar`, ´Um Triângulo de Bermudas`, ´O Desmonte de Vênus`, ´Bucareste` (contos e crônicas) e ´Plataforma G`, além de vários prêmios nacionais e internacionais por sua escrita.
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