Felicidade tão perto, voraz
percepção do novo,
tempo bastante para desperdiçar
o hoje.
Vivas lembranças do ainda
ontem,
o amanhã tão longe.
Sabor de morango, chuva
no quintal.
Latido de cão,
a rã no bolso da calça
- nada mais natural,
mamãe...
Atiradeira invencível,
pedaços de vidro
espalhados pelo chão.
O cheiro de hortelã,
pipa no ar.
Caminho de terra,
relva úmida,
a casa da vovó.
Um silêncio estranho,
familiares distantes chegando.
- Papai...o vovô
não quer mais brincar.
Bola de gude, bola de meia
a correr pela rua,
sempre no rastro
da lua cheia.
- Menino, já para cama!
O quarto-esconderijo, prendendo
minhas asas de anjo.
Medo do escuro,
segredos no porão.
Mariazinha não tem medo não...
O primeiro beijo é assim mesmo?
Ah!... nunca mais viver
aquela sensação.
Liberdade até andar
entre gigantes.
Será que um dia ainda vou?
Natal de muitas
árvores,
presentes tão bons e tantos.
Mamãe chorava
nessas horas...
meu pai escondia o pranto.
Quando eu crescer, quem sabe?
De repente, estampada no palavrão
- maioridade -
o prenúncio da dor.
Acabou-se o que era doce...
quero voltar, por favor.
|