Na minha inocente opinião a parte mais difícil da maternidade seria o parto em si, se fosse normal. Sendo programado, as dificuldades seriam os pontos e a recuperação.
Eu estava enganada. Haja fôlego. As crianças demandam uma vida de aprendizados para quem se responsabiliza por elas. Sejam pais biológicos, adotivos, professores, psicólogos, pediatras. Elas mobilizam uma sociedade.
Eu fazia parte daquele grupo de pessoas que vive criticando e culpando os pais de filhos rebeldes. São permissivos demais, mimam demais, acham tudo bonitinho, não sabem impor limites, enfim, não sabem criar uma criança.
Até, praticamente 40 anos só tinha sido responsável por 5 crianças. Eu mesma, meu irmão caçula, meu sobrinho. Fiquei sozinha com ele enquanto bebê por 1 dia e nem foi inteiro. E dois irmãos de 4 e 6 anos dos quais fui babá nos EUA por uns dois meses.
Estava morando temporariamente em Nova Iorque e precisava trabalhar, então aceitei ser babá. Devo dizer que foi uma experiência fantástica, apesar do pouco tempo.
Eles eram filhos de brasileiros. Misturavam inglês e português o tempo todo. A menina era dócil, muito fácil de lidar. O menino tinha um grau de autismo, eu acho. Fazia manhas e se enfiava em baixo da cama quando não queria fazer alguma coisa. Adorava assistir, por vezes seguidas, aquele filme do Michael Jordan com o Pernalonga.
A menina ia para a escola pela manhã e eu a levava. O menino ia junto, tinha apenas 4 anos. Deixar sozinho em casa estava fora de questão.
Um dia, naquele frio do inverno de Nova Iorque chamei as crianças pra calçar as luvas. É lógico que houve uma verdadeira revolução. I don´t want gloves. But it´s too cold. Put the gloves, please? No, no, no. Ok let´s go. Não tive a presença de espírito de levar as gloves na bolsa. Quando chegamos à escola estavam me perguntando cadê gloves? Ficaram em casa. A menina entrou na escola. Problema resolvido. Voltei com ele para casa. Quando estávamos próximos ele começou a emitir uns gemidos. Entramos em casa e olhei pra ele sem entender o que estava acontecendo. Fiquei apavorada. As mãozinhas estavam roxas e a minha barriga doeu.
Para minha sorte e dele lembrei da minha tia Alice que disse ter abraçado minha irmã para esquentá-la. Foi o que fiz. Coloquei as mãozinhas entre minhas pernas e o abracei com gosto. Ele melhorou rapidamente. Ufa!
As crianças são surpreendentes, principalmente agora, na era da tecnologia suprema. São espertas, articuladas e nos fazem sentir incapazes de dar respostas adequadas às inocentes perguntas que pairam em suas cabecinhas brilhantes.
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