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A importância de não ser importante
vinicius de almeida rodrigues

Resumo:
Crônica sobre a vida inundada no RJ!

A importância de não ser importante

Caro Leitor,

Vivemos em uma época na qual todos estão voltados para o culto da ostentação. Parece clichê, mas estou convencido que este século será adjetivado como a época do "ter", ou melhor, "do parecer ser".

A cada dez cidadãos do mundo, onze desejariam a Cronos dias com mais de vinte e quatro horas. No entanto, aparentemente paradoxal, o homem tem gastado um tempo do qual ele não mais é possuidor em mídias sociais, smartphones e outros congêneres.

Ao leitor mais desatento, não se espante! Estamos gastando nosso precioso tempo em futilidades! Usarei como exemplo umas das mais famosas redes sociais do presente momento - o Instagram. Já ouvi relatos de pessoas que contraíram tendinite no dedo de tanto "surfar" nesta plataforma.

Seria motivo de festa se tal dor fosse adquirida com a intenção de produzir algo relevante em prol da população miserável do nosso país. No entanto, não é isso que ocorre. Busca-se apenas assuntos relacionados ao exibicionismo! O novo affair do Neymar; a última dieta da Gabriela Pugliessi; o mais recente carro do MC Gui.

Gostaria de deixar claro e registrado que nada tenho contra essas pessoas, bem como não guardo nenhuma inveja pelas celebridades que eles são. Pelo contrário, na minha anônima e modesta opinião nada é mais sagrado do que a benção de não ser importante.

Obviamente todos nós somos importantes para um homem, para uma mulher, para a família e amigos, mas quero me referir a importância midiática!

Utilizarei, como ilustração desta minha tese, um causo que ocorreu com este incógnito aventureiro de cronista. Na última quarta-feira, os céus desceram na (ainda maravilhosa e resiliente) cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro na forma de água! Mais de uma centena de árvores caídas pelas vias terrestres, transportes coletivos soterrados ou submersos, enfim, seria conveniente não um Bispo na Prefeitura, e sim o próprio Noé.

Pois bem, de forma resumida, saí da estação da Uruguaiana às 22:00 e cheguei a estação do Jardim Oceânico por volta das 22:45 como de praxe. No entanto, a apreensão se materializou na minha frente: estação lotada, pessoas dormindo no chão, ligações desesperadas aos familiares. A primeira vista considerei um exagero, afinal nada mais deveria ser do que uma simples chuva.

Cheguei a escadaria de acesso da estação e estava comprovado meu profundo engano. A apreensão se transmutou em desespero! Não havia como regressar ao meu lar. Todos, sem exceção, estavam ilhados.

No meio do caos, ocorreu um milagre carioca. Estranhos se consolando, desconhecidos bebendo juntos (é importante citar que a única faixa de terra seca proveniente da estação nos levava ao bar do lado - outro milagre!), obscuros marcando encontros e reuniões de negócios que nunca ocorrerão.

Pasmem que tais pessoas só conseguiram iniciar o movimento pendular proletarial por volta das 03:00, mas engana-se quem imagina uma cena de dor e sofrimento. Houveram relatos de indivíduos que clamaram por mais vinte minutos de chuva em função de uma última cerveja ou por tentar um último flerte em plena enchente.

A pergunta que persiste: gozariam os famosos de tal benção? Creio que não! Primeiramente, essas pessoas públicas não utilizam transporte público. E mais, se usassem, elas seriam sufocadas pela praga da fama, pois teriam que conceder autógrafos e posar para fotos a todo instante. Por fim, se sobrevivessem a essa etapa, os ignorantes ignorados fariam de tudo para chamar um segundo da atenção dos seus ídolos, como por exemplo, construir uma ponte humana para que os influenciadores pudessem chegar as suas casas de forma sã, salva e seca!

Portanto, atento leitor, estou convicto que é uma dádiva não ser importante. Além dessa constatação eu afirmo que a inveja parte do lado de lá, pois mais uma quarta-feira se consolida com vários alertas de chuvas torrenciais em terras fluminense, ou seja, às 22:45 estarei na estação do Jardim Oceânico rogando por mais uma milagre carioca, por mais uma cerveja e por mais um flerte, enquanto os famosos estão reclusos em seus palacetes e orbitando em seus respectivos mundos paralelos.


****

Vinícius de Almeida Rodrigues
13 de fevereiro de 2019


Biografia:
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Outros títulos do mesmo autor

Crônicas A importância de não ser importante vinicius de almeida rodrigues


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