Das trevas que se levanta,
Há um cheiro de flores podres,
As flores que ninguém colheu
E que o escuro acolheu
… e
Um cheiro de morte,
A morte que ninguém chorou
E que o escuro amparou.
Da fria tumba que lentamente se arrasta,
Propaga-se um grito de dor,
O grito que todo mundo ouviu
E que coração algum se ressentiu
… e
Espalha-se um lamento profundo,
O lamento que todo mundo ouviu
E que todo mundo indeferiu.
Daqui, seio do breu absoluto,
Paira um urro de fúria,
O urro que a todo ouvido perfurou
E que todo juízo condenou
… e
Sobe um odor nauseante de sangue fresco,
O sangue que o corpo perdeu
E o escuro, famintamente, lambeu.
Deste mórbido leito frio,
Ecoa o bater infrene de um coração,
O machucado coração condenado
Que não pôde ser confortado
… e
Despontam torres de cacos de sonhos,
Os sonhos (jovialmente) um dia sonhados
E pelo riscar da pólvora destroçados.
Desta ausência perfeita de cor,
Ressoam versos aleijados,
O poema cruel, insensivelmente rejeitado
E pelo escuro, de bom grado, recitado.
… e
Vibra o sibilar de uma serpente,
A serpente que não ofertou o fruto
Mas que é igualmente injustamente maldita desde o útero.
Aqui,
Nas trevas cegantes das quais afinal se liberta,
Ajuntam-se as cinzas
Do que foi e não deveria ter sido,
Do que deveria ter sido e jamais foi,
Do que inevitavelmente continua a ser
E definitivamente não mais será.
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