Quando o Sr. Falsete, à Terra Muda ancorou,
Logo lhe arrancaram o alaúde,
E em seguida a língua.
Como, entretanto, ainda usasse da garganta
para (incontrolavelmente, rebeldemente, estupidamente) se fazer ouvir,
em notas roucas e murmúrios selvagens,
Arrancaram-lhe a laringe e as cordas vocais.
Como, ainda assim, fizesse
(incontrolavelmente, estupidamente, rebeldemente)
do corpo instrumento de percussão,
Primeiramente lhe deceparam as mãos,
Em seguida os pés e,
mais tarde, os dentes,
que feriam o imaculado silêncio daquele lugar
com seu tac tac agudo incessante.
E como, futuramente,
descobrisse nas orelhas um meio
de (incontrolavelmente, estupidamente)
suprir sua necessidade de música,
privaram-no destas juntamente com os cotos dos braços.
Mas, felizmente (lamentavelmente),
ainda lhe restavam cabeça, tronco e os cotos das pernas,
e por meio destes, em parceria com a estrutura
do quadrado que o enjaulava,
sua “música” continuou
(incontrolavelmente, desesperadamente, estupidamente),
a ressoar na Terra Muda.
Então rasgaram-lhe a coluna,
trabalharam ali com serra e machadinha,
e o mataram do pescoço para baixo.
Quando o Sr. Falsete, à Terra Muda navegou,
com a ideia estúpida e febrilmente desencorajada de compartilhar,
Através da sua música,
as maravilhas e belezas do mundo do sol,
já sabia perfeitamente que seria enxotado,
porém não imaginava, que à sua insistência,
fariam-no prisioneiro,
tanto desta soturna terra quanto de si mesmo.
… não obstante,
abandonado sozinho e miserável
nas sombras daquela cela fria,
O Sr. Falsete, que jamais suportaria viver sem música,
fez, num derradeiro e incontrolável ato de desespero,
rebeldia e, obviamente, estupidez,
da própria respiração um reprodutor
das notas trancafiadas em seu peito.
Ele inspirou e expirou,
inspirou e expirou,
inspirou e expirou,
ruidosamente, profundamente, furiosamente,
até que vieram e cortaram-lhe a cabeça,
que foi, por fim, servida ao rei da Terra Muda.
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