REFLEXÕES DE UMA MÁSCARA.
Ah! Nunca fui tão importante como agora! Chego a agradecer a esta pandemia, que me fez ser imprescindível. Vivia em um canto, esquecida por uma maioria.
Sei que, por ser máscara, possuo interpretações e usos os mais variados. Alguns, de orgulho e prazer. Outros, difícil dizer.
Sou feliz enquanto protejo os humanos das gotículas infeciosas. Agora, na rua. Antes e sempre junto aos profissionais de saúde, meus heróis.
Nada melhor que representar o próprio herói, voando e lutando contra inimigos que permeiam o sonho das crianças. Agora, imagino-me a própria fada madrinha, capaz de remover todos os males do mundo.
Também fico feliz nas festas carnavalescas, quando somos ornadas de confetes e lantejoulas! Espero por estes dias, desejosa por saber em que figura e alegorias vão me transformar. Até aprendi a sambar.
Antes, invejava o guarda-chuva, pois ele sempre protegia os humanos das gotas de chuva, límpidas e puras, ainda que nem sempre desejadas sobre sua cabeça. Hoje, sinto que devo me orgulhar destes distintos deveres de protetora e realizadora de fantasias.
Porém, estes papeis gloriosos não são permanentes e nem sempre tão louváveis. Somos usadas ao inverso. Os representantes de outro vírus que permeia a humanidade é que nos reivindicam. Os condutores do vírus da violência! Os humanos “mascarados” escondem suas identidades para vilipendiar seus pares e cometer os mais tenebrosos crimes.
Neste momento, nos tornamos cúmplices destes covardes vilões.
Ah! Tenho que ressaltar que nem todos os humanos precisam de máscaras físicas para cometer atos ignóbeis.
De cara limpa, dizem-se transparentes, usando a hipocrisia como forma de esconder seus reais interesses. Sorriem de forma dissimulada, discursam como se fossem heróis salvadores dos interesses de seu povo. Na verdade, a máscara que usam está em seus planos diabólicos velados. Estes, usam a máscara da falsidade e do embuste.
Quanto a estes, fico feliz por nunca me usarem!
Sueli Couto Rosa, 25 de maio de 2020
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