O letreiro luminoso com a xícara azul fumegante
Queria terminar este 2017 ressaltando a importância de reservarmos um lugar tranquilo como nosso refúgio diário.
Algumas pessoas conseguem se defender dos estresses e rudezas do dia com meditação, com rezas, com chocolatess.
Eu, na maioria das vezes, preciso de um café com leite quentinho, um pão de queijo, num lugar reservado, com pouca iluminação ...
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O italianinho atendia a todos com um grande sorriso e me indagou:
_ Boa tarde, o que senhora deseja?
Entrei na lanchonete-cafeteira, por impulso. Não estava com fome, nem sede, mas vi o letreiro luminoso na rua quase escurecida, sentia o vento frio invadir as frestas de meu casaco surrado, e decidi que estava na hora de me dar um descanso.
O dia fora extenuante tanto emocionalmente quanto fisicamente. Acompanhar meu parente amado lutar para se recuperar de um A.V.C. e suas sequelas, a mim, exigia forças muito além das que eu supunha ter.
Eu creio que ele superará esses obstáculos todos, no tempo devido, pois sempre fora grande guerreiro. Todavia, deixou-me aterrorizada a constatação crua de que nosso corpo é tão frágil e a vida pode, a qualquer momento e em qualquer lugar, nos derrubar inertes, desamparados e sem voz.
Absolutamente mais nada será como antes, mesmo que aparentemente haja semelhança. Nem eu, nem ele poderemos e queremos ser o que éramos.
É que todo fato-ato traz consigo duas categorias de consequências: a má e a boa. Uma vez que a consequência má chegou de rompante, sem pedir licença, acabando com nossas antigas e, de certa forma, confortáveis estruturas de vida, a consequência boa é/será a renovação total, desde as infraestruturas.
E tudo está sendo reconstruído em bases mais fortalecidas, com a percepção mais fiel da realidade. Quanto mais sabemos o que somos, mais podemos ser, mais amamos, mais agradecemos, mais lutamos, mais queremos que todos vençam, e mais podemos ser felizes.
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Saí da cafeteira tão mais leve. O café com leite estava excelente, o pão de queijo delicioso. O italianinho continuava a atender sorrindo.
Aquele letreiro luminoso, definitivamente, não anunciava ilusões.
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