Demonstrando tranquilidade, olhar astuto, silencioso, ele caminhou para participar de um momento muito importante para a nação. Naquela afável manhã de primavera ia votar para presidente da República na sua amada pátria. Tentava não recobrar dos momentos angustiantes que havia passado, ao demonstrar insatisfação diante do candidato que tinha na intenção de votos mais da metade da população segundo redes sociais, pesquisas de opinião obtidas de fontes seguras, ou não, e invenções que a população obstinava em propagar.
Ele não estava conformado com o andamento das eleições, jazia no seu coração o sentimento de alienação, sensação de culpa que poderia ter sido evitada caso tivesse participado com mais veemência das campanhas que ocorreram em uma das redes sociais das quais fazia parte. Mas era tarde demais. Cabia-lhe seguir em frente, confiante que o seu voto poderia contribuir para um resultado que fosse favorável à sua ideologia partidária. Pairava na atmosfera o medo. De um lado, bradavam os cidadãos que acreditavam nos chamados partidos de direita, do outro, rebatiam os de esquerda com os seus ideais. Ele era de esquerda.
Nas ruas daquela cidade já não se via a panfletagem de outrora exibindo em papéis coloridos a imagem dos candidatos, tratava-se de um segundo turno, tudo corria com mais leveza, apenas nos locais destinados à votação ainda ocorria o mesmo entra e sai presente no turno anterior. Ele antes de chegar ao seu propósito, percebeu-se refletindo sobre o mundo que o cercava, questionando sobre qual era o verdadeiro sentido do voto para aquela nação. Ficava sem entender o que levou uma população a cair nas garras de um candidato que a desrespeitou, a partir do momento que se recusou a participar de um debate com seu opositor, algo considerado de extrema importância para o desenrolar de uma eleição. Não era justo que alguém, que se predispõe a governar um país, tenha conseguido hipnotizar uma grande quantidade de eleitores, sabendo-se que esse alguém fazia questão de propagar uma série de preconceitos sociais, além do aniquilamento de projetos que trouxeram benefícios para a população carente simplesmente por ter sido herança do Governo anterior. Para ele, na condição de cidadão participativo, era difícil, até confuso, entender o que se passava no raciocínio da população. Seguir em frente e agir de modo consciente, foi a determinação do momento.
Ele, ao chegar no ginásio onde ocorreria a votação, subitamente dirigiu-se para a seção indicada no título de eleitor e após a entrega do documento confirmando seus dados, caminhou cautelosamente até a urna eletrônica, mas no exato momento de colocar o dedo indicador na tecla para confirmar o voto, veio à memória o assassinato brutal de uma vereadora que se recusou a aceitar uma sociedade injusta, excludente. Com o dedo trêmulo, apertou a tecla confirmando o voto. Missão exercida, assim ajuizou, sorriu, foi embora.
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