Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Crônica de uma história real e local
Um idioma,um mal entendido e a vida muda
Martinho Júnior

Dos fatos da vida real em termos locais,esse é um dos que guardo na gaveta de minha memória desde minha adolescência, momento em que vivenciei parte desta história verdadeira.O contarei aqui nesta versão sem cortes,pois os nomes aqui relatados são reais.
     O idioma que herdamos dos nossos colonizadores nos traz uma característica que muitas vezes pode gerar entendimentos diferentes a respeito da mesma palavra.E foi assim que um vocábulo mudou o cotidiano de uns e a trajetória de uma vida de outros. Em busca de sua rotina de trabalho,meu tio por parte de mãe,Silvestre Batista,um alfaiate conhecido por muitos pela qualidade de seus ternos e roupas bem feitas,vai até uma venda,uma loja que vendia produtos de costura,nesta época existia um tipo de tubo ou peça de linha que chamavam de “peito de linha”, daí o mal entendido:

          -Ao chegar no balcão da loja, Silvestre Batista faz o pedido do produto, diz: Me dê um peito de linha;

          -Um rapaz de dentro da loja questiona, e diz: O quê? Você quer o quê?

          -Silvestre novamente reafirma de modo vigoroso : Eu quero um peito de linhaaaa!

          O rapaz rapidamente lhe aparece com uma arma ( tipo espingarda) atira e a bala passa de raspão acima de sua cabeça causando rasura em sua boina.

          O rapaz era José Garcia,sua tia que estava dentro da casa e ficou constrangida com pedido do cliente, pois ela tinha um apelido,advinha qual? Isso mesmo,Linha.
          
          Silvestre foi no embalo da fulga pela sobrevivência direto à delegacia prestar queixa,o delegado deu um prazo de 24 horas para que o atirador fosse embora de Esperança-Pb.

          Muitos anos depois em uma de suas visitas à cidade,uma das amigas de minha mãe,residente na cidade de Fortaleza-Ceará, antes de apresentar o que na época era seu atual esposo,lhes pergunta:
          -Oh Hilda tu lembra daquele mal entendido que teu irmão foi comprar uma peça de costura e atiraram nele.
          Minha mãe ( HIlda Batista): lembro sim.
          
Margarida: Eu preciso antes lhe contar uma coisa,o meu atual esposo é a pessoa que atirou,mas ele hoje tem a visão de que o que aconteceu na época foi um fator de mudança de vida,pois se ele não tivesse saído de Esperança não teria provavelmente alcançado as oportunidades que lá conseguiu,tornou-se jornalista e empresário,porém lá sua identidade é outra: Dutra de Oliveira.E é assim com esse nome que vai se apresentar aqui na cidade,gostaria de saber se não vai ter problema em relação a isso?
A minha mãe respondeu que era passado,foi um mal entendido.
Era interessante ver que sobre suas origens, ele as conservava e não abria mão,essas coisas típicas de nordestino e paraibano o acompanhavam,quando por aqui vivia tocava viola e gostava de relembrar ao ouvir os grandes nomes do repente,violeiros afamados e os melhores dizia ele, eram do R. Grande do Norte,Paraíba e Ceará,sua coleção de LPs (discos de vinil) era eclética,mas não faltavam os mestres do repente popular.
Na época que o casal amigo nos visitava,eu tinha um cinto de couro,uma fivela estilo country ou se preferirmos sertanejo, presente de um primo,hoje uma figura pública conhecida aqui na cidade, Grão Goiano.Além de ser um artigo de couro todo trabalhado muito bonito,mas o ex-violeiro o contemplava com olhar pensativo,provavelmente recordando sua vida em sua terra natal,seus dias de repentes,lazer e regionalismos.
          Ao estarem lá em casa vi quando,sua bolsa estilo capanga era guardada,dentro um revólver,recordo que meu pai procurava que eu não notasse a arma.
          Numa das vezes que estava lá em casa,ouviu quando alguém chamava na porta e perguntava tenso: É o irmão da Hilda?
          De imediato eu ciente da situação logo tranquilizava: é meu tio Bonifácio.

Nos dias atuais os protagonistas deste fato já não estão mais neste plano da existência,embora quem sou eu para determinar como deve ser a vida do lado de lá,noutro mundo? Mas seria engraçado se por lá eles não se conhecessem de imediato,ambos com suas identidades preservadas ou mudadas, conhecessem as idéias,os ideais,as lutas e as virtudes um do outro,com certeza depois disso, mal entendido não haveria entre eles,Entendido?


Biografia:
Número de vezes que este texto foi lido: 52819


Outros títulos do mesmo autor

Crônicas A máquina do Tempo de certa forma já Existe Martinho Júnior
Crônicas Crônica de uma história real e local Martinho Júnior
Crônicas A Loira da Escada Martinho Júnior
Crônicas A Transcendência de Um Cronista Martinho Júnior
Crônicas Minha Rua Martinho Júnior
Crônicas Brumadinho,O Lamaçal Ético Martinho Júnior


Publicações de número 1 até 6 de um total de 6.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 68968 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57889 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56707 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55782 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55021 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 54897 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54828 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54796 Visitas
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54707 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54696 Visitas

Páginas: Próxima Última