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O ESPANTO QUE NOS ALIMENTA
Manoel Rodrigues de Abreu Matos

Havia decidido que, pelo menos temporariamente, iria parar de escrever, pois estava focado em outros objetivos. Mas, nossa vida não é ritmada por um manual, mesmo que tenhamos objetivos bem traçados, eventualidades acontecem e, de repente, percebemo-nos fazendo coisas das quais jamais imaginamos. Isso é legal, diferencia-nos das máquinas que podem ser programadas para exercerem uma única atividade durante muito ou todo o tempo.
Conosco, para o bem e alegria, o acaso pode, por alguns minutos, horas, dias ou mesmo meses, tornar-se o centro da nossa atenção. Algo desse tipo me ocorreu hoje. Comprei um jornal e, por descuido, ele caiu na rua sem que eu percebesse. Só me dei conta quando entrei no carro. Ainda resistir em procurá-lo, mas como se tratava de uma leitura obrigatória, mesmo que já estando na era digital, a leitura do impresso não pode faltar. A leitura é para nós, o que a água é para os peixes, o que o Eduardo é para a Mônica, o que o feijão é para o arroz, o que a salsicha é para o pão. O grande pedagogo Paulo Freire já havia falado sobre a importância do ato de ler. Ler não somente a palavra, mas ler o mundo que precede as palavras. Infelizmente, são poucas as pessoas que concordam com Freire. A maioria prefere mesmo é ser conduzida pelas informações e ideologias propagadas pela mídia e pelas pessoas de má fé.
Uma característica importante que estamos deixando morrer é o espanto diante dos fenômenos que deveriam causar em nós um tremendo susto ou, no mínimo, deixar-nos reflexivos. O poeta Ferreira Gullar, quando perguntado o que o fazia escrever tanto, a resposta foi curta e rápida: “o espanto” e completou: “quem não percebe o mundo a sua volta, certamente não terá o que colocar no papel.
Sobre o jornal perdido, fiz o percurso de volta e acabei o encontrando já todo pisoteado em uma calçada. Era o centro de uma cidade bem movimentada, diversos pares de pés indo e vindo, mas nenhuma curiosidade para dá vida àquele jornal que estava caído, solitário, sendo maltratado. Possivelmente, enquanto os pés maltravam o pobre jornal que só queria ser lido, as mãos seguiam ocupadas manuseando os aparelhos de celular, enquanto os olhos dos transeuntes focavam nos produtos em promoção nas diversas vitrines das lojas. Consegui salvar o jornal daquele abandono e sofrimento e, claro, ganhei um companheiro para dialogarmos durante o percurso de volta para minha casa.


Biografia:
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