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mordida do leão
na rua augusta
João Belato

Resumo:
cronica da mordida do leão

Mordida do leão na rua augusta
Autor João Belato
Data 19.06.2019
Chequei na Receita Federal, para fugir das filas e dos tramites e embaraçamentos, procurei chegar o mais cedo possível no endereço fornecido por funcionário da própria receita. Retirei a senha e fiquei ao aguardo da chamada, munido com todos os documentos possíveis com a certeza que o especialista fosse exigir. Aguardei alguns minutos e fui contemplado com o número no painel, levantei-me dirigindo ao clichê pedido e com toda a documentação já em mãos, e mostrando de imediato ao técnico, que olhando e já no mesmo instante, observando por apenas alguns segundos e no meio de toda a papelada, perguntou de apenas uma, que seria a informação da renda de um banco e comentando com uma categoria de muito conhecer, e olhando apenas estes poucos segundos, falando de forma clara e posso até dizer de autoridade ou autoritária – precisa pagar.
Com esta frase, depois de várias tentativas de argumentações junto a especialista da receita e nada conseguindo, sai do prédio, encabulado, abatido e emburrado e com uma dívida enorme que tenho que pagar pois o castigo seria muito maior, paga-se nos dias e nos prazos emitidos pelos computadores da receita, mundialmente conhecida como a mordida do leão, que posso fazer com os bolsos vazios, e a mordida ser enorme e sangrenta na sua vida e na dos seus familiares.
Sai, segundos passados, no momento, neste momento, em que coloquei os pés na calçada da famosa Rua Augusta, foi daí que me dei conta da rua onde eu estava. Como uma brisa ou como um choque, as recordações vieram de forma acelerada e em constantes movimentações, as passagens de inúmeras vezes em que transitei nesta histórica rua. Época está em que o movimento dos ônibus elétricos da Companhia Municipal de Transportes Coletivos – CMTC, vários e poucos carros circulavam, o movimento maior eram de estudantes e de pessoas a procura de moda e beleza e porque não complementar com charme de andar por esta rua de paralelepípedos, estamos por volta de 1961. Novas tendências e novas culturas, principalmente voltadas para os jovens, lembre-se estamos na década de 60, os filhos das famílias mais abastadas queriam “novas emoções”, importante salientar haviam poucas drogas, nesta época, eles queriam era mais uma demonstração de força – entre o Mackenzie e a Universidade de São Paulo, conflitos homéricos pelo entre estas duas instituições.
A moda da época era ditada pela zona sul, os políticos, nenhum que eu me recorde era da zona norte, zona sul ou zona oeste, os mais ricos, os influenciadores os atores e atrizes, os restaurantes, o modo de vida. Não precisamos ir longe, época atual, já tivemos algum prefeito ou governador de algumas destas zonas, que não seja a zona sul.
Os colégios ficavam neste quadrilátero, Augusta, Angélica, Paulista e Consolação, depois com tempo foram se espalhando e se diversificando. Aqui ficava a moda, os carros, as inúmeras lojas de roupas e por fim os vinis – muitas lojas de discos.
O que mais impressiona eram também as discussões políticas, estamos em período de eleições, os nomes quotados eram: Jânio Quadros – Partido Trabalhista Nacional -PTN, Henrique Teixeira Lofft – Partido Social Democrático – PSD, Adhemar de Barros – Partido Social Progressista – PSP, que nesta mesmo época houve um mexerico com envolvimento com uma escritora.
Outra discussão de época, embora em regiões distantes, eram notícias diárias em primeira página e tirava o sono de muitos, era a guerra do Vietnam, que chegava como uma enxurrada de informações, sobre o comunista que estava vencendo. Revolução Cubana, com a eleição de Fidel Castro, Guerra dos Porcos, sobre os misseis, expulsão dos americanos em território cubano. Os jovens brasileiros interessados em Marx, a chegada de Elvis com as suas músicas e filmes, novos rumos para um Brasil que estava nascendo depois da política do café com leite. Novo Brasil, que vinha da copa do mundo, e se preparando para a nova copa, agora na América do Sul. Tudo isto acontecendo em baixo do meu nariz em plena rua Augusta.
Chegada do biquíni com a atriz francesa Brigitte Bardot.
Aqui inauguração da nova (NovaCAP) capital, no centro do nosso universo que o Brasil, mudança saindo da sede do Rio de Janeiro, indo parar no sertão. Executada pelo mestre em Arquitetura e Urbanismo – Oscar Niemeyer. Aqui também o nascimento de nova categoria de trabalhadores, os calangos.
Pais passando por profundas mudanças políticas, livro de época – Subterrâneos da Liberdade, outros proibidos, principalmente alguns títulos traduzidos do chinês para o português.
Outra notícia era que o mundo ia acabar no ano 2000.
Estas recordações, estas lembranças miscigenadas. Parei na primeira esquina a poucos metros do prédio da receita. A observação logo começa, onde estão os cinemas, existiam vários, os bares e as famosas lanchonetes, os casais de adolescentes de mãos dadas, apreciando vitrines, sei que havia uma loja famosa de discos, não recordo o local, acho que fica por aqui ou por ali, só lembrei do lado da calçada, não lembrei do espaço aonde ela ficava.   
Tinha muito a caminhar e muito em que pensar. O primeiro pensamento é como pagar este absurdo de multa. O segundo foi olhar novamente para a rua e decidir ir caminhando. O público não era o mesmo, as pessoas estão mais velhas, as lojas abandonadas ou ocupadas, muitos prédios e poucos lojas. A moda, os discos, as estudantes, tavão lugar a uma rua agora estranha, com calçadas estreitas e muito transito. Os paralelepípedos ficaram embaixo do asfalto. O tempo passou eu também. Ficaram estas recordações. E a realidade crua são a massa de papel embaixo do braço acompanhada de uma multa absurda imposta pela mordida do leão em plena rua Augusta.              
       


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