Os garotos adoravam tomar banho no rio Noronha. Água boa e limpa, era asssim que dizia o avó. Mas por uma ironia dessas, os garotos acharam outro dia uma maleta no fundo do rio. Era nova e bonita, de um material resistente. Apenas encharcada, mas depois de um sol estaria ótima para uso.
Foi a relíquia que fez a alegria dos meninos aquela tarde. Com a maleta veio a ideia de brincar de empresário. Depois a brincadeira evoluiu e já tinha político e juiz no meio. Não tardou para começarem as prisões, depois as brigas de mentirinha e depois as brigas de verdade.
Todos os garotos queriam ser o político corrupto. Então a briga, que era só de brincadeira, avançou e Andrezinho que era maior deu umas tapas em Joazinho, que correu chorando para dentro de casa para pedir socorro a mãe. A mãe dos garotos saiu e pediu para que Nancinho, que era o mais calmo e estivera mais ameno na briga, esclarecesse os fatos. Este, no entanto, tinha medo de André, que era mais velho e imponente. Ele deu seu testemunhou contra Joazinho, que foi logo mandado para um canto de castigo, ficando lá amuado e cogitando vingança.
A brincadeira continuou. O político tentando se explicar para o juiz, e o juiz incisivo ameaçando prendê-lo. Joazinho espreitava tudo de longe. Quando a brincadeira, que só prestava com três, já não fazia graça, a maleta foi largada e os dois garotos foram brincar novamente no rio Noronha.
Ao que o outro, que estava no castigo, se aproveitou uma distração da mãe e saiu sorrateiro, então tomando posse da maleta a escondeu. Nova briga então se iniciou. A mãe foi chamada. Safanões e reprimendas foram dados. A maleta mesmo assim não aparecia. Ameaças de surras e castigos pesados, mesmo assim a maleta continuava encoberta. Então se resolveu apelar para uma instituição maior e mais rigorosa: o pai. Este era um homem extremamente imponente e alto, grosso como papel de embrulhar prego. Ele chegaria ao cair da tarde e tudo se resolveria.
Agora não só um, mas todos os três foram colocados de castigo. Foram longos minutos para os garotos, que de castigo, padeciam também com
a expectativa angustiosa do confronto com a rigidez do pai. E as confabulações começaram:
"Entrega a mala Joazinho. Todos iremos apanhar se você assim não fizer." Ao que Joazinho continuava calado e com ar quase risonho, como se esperasse aquilo mesmo. Seria sua vingança, não iria sofrer sozinho, mais todos eles iriam.
O pai chegou. E só o brado de sua voz na porta, falando com a mulher, fez estremecer os garotos. Veio sisudo, com ar de quem iria conseguir o que queria sem apelar muito.
"Cadê a maleta?", disse incisivo e mirando-os.
"Não sabemos", falaram todos amedrontados.
Ele tirou o cinto da cintura, com olhar cruel fitou-lhes.Então logo os outros dois apontaram com dedos acusadores para o menor. O pai então encaro-o mordendo os beiços de raiva. E sem que dissesse mais nada, o garoto enrubesceu. Então apontou para debaixo da cama.Lá estava o material escondido.
O pai tomou da maleta, observou-a detalhadamente. Abriu-a e fecho-a. E disse num tom satisfeito: "excelente". Depois saiu com ela em punho e disse para que saíssem do castigo. Os garotos respiraram aliviados.
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