Quem nos vê?
Uma comunidade chamada Bolivia. O gueto. Uma escola. Atrás dela uma quadra.
Papel, sacola plástica, meninos, chinelos e a trave. Partida de futebol.
Gargalhadas rolam no meio do jogo. Meninos correm, abrilhantar o time e a torcida vibra.
A bola rola, torcida agita e surge o gol. "GOL". E volta-se a jogar, passa a bola, bate na trave, bola fora. E cada um conhece seus parceiros. A bola rola ao som da favela. Torcida agita.
Na brincadeira de criança da favela, não é só polícia e ladrão. No meio da quadra tem muita diversão.
Do outro lado da rua, vários corpos giram no ar. Corre daqui, corre de lá, pulam muros, invadem casas, se escondem atrás de paredes, invadem o manguezal, corre,corre,os homens chegaram.
Por um minuto, os pés parecem tocar o céu nos fuzis dos policias.
Corpos negros desejados pelo desejo do sexo frágil. Bocas pintadas sob o olhar entristecedor de uma menina.
Corpos negros que limpam suas casas, fazem suas comidas e tomam conta dos seus filhos.
Só corpos negros. Muito triste de vê, mas fazer o quê?
Inúmeros rostos sem sonhos, sem vontade, sem alegria.
Você não vê?
Outras bolas rolarão, outros gols farão. Novas crianças, novas possibilidades surgirão, ainda que por um breve momento. E então, mais do que corpos, mais do que estatísticas, mais do que favela, eles serão.
Serão chamados: o motorista Marivaldo, Marcos o jogador, Antônio o advogado e Alex o doutor.
Serão Rayssa a professora, Islane a empresária, Kamila a juíza e Elinete a Policial.
Todos os dias somos corpos. Corpos negros em busca de um futuro melhor.
Mas quem nos vê?
Obra coletiva
Mediadora: Professora Elaine de Jesus
Autores: Alex, Antônio, Elinete, Irlane, Marcos,Rayssa, Kamila.
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