Segunda-feira, dia 22/03/2021, no auge da pandemia da COVID-19
É surpreendente as manchetes negativas encontradas nas mídias online; algumas mostram exatamente o que o locutor pensa sobre o assunto, e leitores que não leem o texto, apenas as manchetes, acabam por serem, muitas vezes, enganados pelo discurso do locutor, no caso, do jornalista.
Foi por isso que resolvi pesquisar, no Google Acadêmico (onde encontramos uma diversidade de trabalhos publicados), o que vem a ser uma manchete, os tipos de manchetes e o que está por trás delas. Essa pesquisa me induziu a fazer um breve resumo o qual esclarece alguns desses pontos e acrescenta outros interessantes.
Bom, o resultado está no texto abaixo, sem título, ou seja, sem uma manchete, afim de que o leitor leia o texto e não seja induzido pela manchete.
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Texto sem Título
Atualmente, com o crescimento da internet como meio de comunicação, as pessoas alteraram a forma de consumir as notícias. Ou seja, trocaram as notícias de jornais e revistas impressos por suas versões online ou por web/blogs (Mitchelstein & Boczkowski, 2009; Tewksbury, 2005). Nas duas formas, seja na impressa ou na online, o jornalista terá o objetivo de chamar a atenção do leitor através da manchete da notícia a ser divulgada. Cabe ressaltar que esse mecanismo de atração dos leitores tem sido utilizado há vários anos (Evans, 1974) e pode determinar a forma com que muitas pessoas leem as notícias (Konnikova 2016).
No mundo online, com o aumento da concorrência, não nos surpreende quando nos deparamos com manchetes cada vez mais agressivas, exageradas e, em alguns casos, até um pouco enganadoras (Ramos, Reis & Benevenuto, 2016). Por terem a responsabilidade de resumir a notícia, as manchetes acabam determinando se a mesma será lida ou posta de lado (Fossati, 1997). Em acréscimo, na verdade, os leitores são, em sua maioria, leitores de manchetes, sendo “comum o leitor afirmar que leu o jornal, quando apenas viu a notícia nos títulos, isto é, nas manchetes” (Douglas,1971, p.15).
Entretanto, as manchetes não são apenas a primeira impressão que adquirimos em relação a determinada notícia. Estudos recentes sugerem que elas podem até mesmo determinar a forma de percepção dos leitores em relação ao restante do conteúdo, afetando inclusive a maneira como as pessoas lembrarão destas notícias (Ecker et al. 2014).
Segundo Reis et al. (2015), manchetes extremamente negativas ou positivas geram uma maior popularidade, enquanto as neutras tendem a ser menos atraentes. Um dado interessante no estudo de Ramos, Reis e Benevenuto (2016) é o aumento de notícias negativas, publicadas, principalmente, no início da semana.
Outro ponto a ser analisado é que as manchetes, muitas vezes, posicionam os leitores no processo de enunciação, induzindo-os e deixando clara, por consequência, as posições do locutor (Camini, 2019). No mais, o leitor que não possua elementos da contextualização, pode ter dificuldades na interpretação da intencionalidade do jornal, ao ler apenas a manchete (Camini, 2019). No mais, mesmo que o jornal seja imparcial ou tente transmitir essa ideia na manchete de forma ingênua, a notícia deixa claro a sua posição, a sua tendência (Camini,2019).
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• Ficam as dicas:
- Leiam a notícia inteira; não se deixem levar apenas pela manchete;
- Emitam opiniões depois de ler a notícia e não a manchete;
- As manchetes são formas de atração e, muitas vezes, não representam o conteúdo da notícia.
Porto Alegre, 23/03/2021
Cláudia S T M
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