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VIVENDO NUM PAÍS DE FUTURO INCERTO
Alessandro Nogueira de Lima

Num país à deriva, onde os seus cidadãos padecem na pobreza, na ausência de recursos e na ignorância, não há como sermos constantemente otimistas e, tampouco, ingênuos, a não ser que fechemos os nossos olhos para o mundo que nos cerca, esquecendo de nos comover com o choro incessante de uma criança em situação de vulnerabilidade e com as atrocidades que recaem sobre a vida tantos animais indefesos. Poderíamos, pois, nos manter anestesiados para não sentirmos as nossas dores e angústias enregelarem o nosso íntimo?

Num país à mercê das incertezas e das calamidades sociais; num país onde a corrupção se espalhou como um câncer, atingindo com as suas metástases níveis de degradação nunca antes visto, não há como esperarmos algo de mãos tão mesquinhas, a menos que prefiramos nos prostituir em troca de migalhas. Para mantermos um mínimo de dignidade, o melhor é vivermos distante e à margem de tamanha cegueira, permanecendo com a simples certeza de que estamos desamparados por aqueles que deveriam nos ajudar.

Num país onde a saúde, a educação e a segurança estão degradados pelo descaso e pela indiferença dos governantes e dos órgãos públicos, não podemos sequer pensar em desfrutarmos serviços de boa qualidade. Como então vislumbrar, com toda nossa capacidade de sonhar, um futuro melhor para todos viverem?

Mas quanto aos nossos sonhos (que ainda insistem colorir as nossas vidas), eles não são um breve passatempo em meio aos momentos de labutas que não propiciam nenhum reconhecimento e valorização? Em momentos de recolhimento interior não surge a possibilidade de encontrarmos um refúgio depois de uma frustração implacável, e um feixe de luz na longa noite que habita em nosso ser? Não seria, por fim, a nossa solitude a chance que nos ajuda a descobrirmos quem somos e a qual a razão de vivermos nesse mundo?

Vivemos, pois, num tempo repleto de sorrisos sem ternura, de olhares e de fisionomias tristes, e de palavras cortantes e amargas. Vivemos num tempo de contrastes em cada quarteirão por onde passamos (pois se de um lado nos deparamos com moradores de rua esbanjando indigência, do outro lado vemos ao longe homens que desfilam as suas riquezas como se fossem os deuses da terra). Vivemos num tempo onde a desolação está estampada em olhares que buscam inutilmente demonstrar alegria e otimismo, em olhares que buscam esconder a opacidade de suas almas. Vivemos num tempo de multidões absortas na adoração de seus ídolos culturais vazios de conteúdos edificantes. Vivemos num tempo sombrio onde tudo precisa ser fugaz e relativizado. É um tempo no qual o homem se se aproxima de outro homem apenas para satisfazer os seus caprichos mais grosseiros. É um tempo de completo esvaziamento e pauperização afetivo-existencial, cujos valores advindos da modernidade líquida são medíocres e superficiais.

E apesar de tanta letargia e cegueira, já não existe nenhum grande espetáculo que possa acalmar por completo as inquietações que se camuflam nas rachaduras de nosso ser. Pois as festas, os divertimentos e os entretenimentos mais apelativos nada fazem para esquecermos de nossas misérias existenciais, ainda que vivamos drogados pelas emoções momentâneas de uma celebração ou evento qualquer! Surge diante de nós apenas a verdade nua e crua de nossa condição (condição essa que nos deixa suspensos no abismo das decisões mais disparatadas e absurdas).

O que resta, então, é apenas degustarmos cálices amargos de revolta como forma de mantermos uma última candeia de integridade em nosso ser. Resta apenas uma revolta sincera para partilharmos com aqueles que, assim como nós, vivem dia após dia sem qualquer perspectiva de que as coisas no futuro serão melhores. A revolta é, pois, o grito de liberdade das almas oprimidas! É, enfim, a expressão mais verdadeira de descontentamento de todos os infelizes desse mundo sombrio!


Este texto é administrado por: Alessandro Nogueira
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